Carta ao meu primeiro filho

Querido Filho,

Gostaria que soubesse que no mesmo momento em que eu te dei a luz, você trouxe ao mundo alguém que eu não saberia que poderia ser. Você fez melhor.

Você me deu um sorriso nos lábios que eu jamais tinha visto. Me deu lágrimas de amor que apertavam o coração de uma maneira que eu jamais havia sentido. Me deu forças além do alcance, poderes além da normalidade, me fez fera e me fez ferida ao perceber que de mim sua vida dependeria. Me fez protetora, me fez proprietária, me fez aprender a desfazer tudo aquilo que era excesso pois para seu bem isso serviria.

Com você eu aprendi a ter limites, a pisar firme, a dar passos em terra, doar sem querer receber, a receber sempre tendo que doar. A compartilhar, a partilhar, a parar e a respirar por mim e por você. Aprendi sobre tudo e sobre nada. Percebi que às vezes, ter tudo pode significar não ter nada. Aprendi que o mundo para, que nós andamos. Andamos ao nosso passo, no começo descompassado, atrapalhado em busca da sintonia perfeita como a harmonia dos acordes maiores quando encontram os menores.

Aprendi que da vida eu não sabia nada, ainda que achasse que muito sabia. Eu aprendi a esquecer de mim e suprimir o “Eu” pelo “tú” e muitas vezes pelo “nós”. Aprendi a viver sem salto, sem make up e sem chapinha. Consegui ficar meses sem fazer as unhas, dormir com o cabelo molhado e me desfazer das madeixas sem dor. Aprendi a cantar em pé e dormindo, tentando te embalar num movimento sem fim.
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Bati recordes, de tempo menor no banho, de almoçar e jantar na velocidade da luz, saltando da cadeira a cada vez que te escutava me chamar. Aprendi a me controlar e ter calma, ainda que tenha me custado muito e outro muito ainda falta.

Aprendi a viver a vida, os momentos, os gestos, cada minuto, cada evolução em cada troca de RN para P, de P para M e de M para G. Logo mais vem o GG e o futuro aqui está.

Com você eu aprendi a ser sua mãe. Aprendi a trocar fralda e te dar banho. Aprendi minhas capacidades, que eu mesma poderia te alimentar e que você cresceria saudável e forte sugando o melhor que eu pudesse te dar, mesmo que amamentar não tenha sido, em alguns momentos, uma tarefa muito fácil. Aprendi te olhar e chorar. Aprendi a te ver dormindo e não querer te deixar. Aprendi a babar muito pelo grande presente que a vida nos deu.

Entendi o que tanto escutava e não compreendia a real potência de amor de mãe. Cada pessoa tem um papel fundamental e diferente do outro em nossas vidas. Essa foi sua missão.

Te amo. AMOR meu.