Gestação. Doce mundo louco de grávida. Se você está percebendo que está ligeiramente estranha e emocionalmente abalada durante a gestação, no stress. Tudo que você precisa é compreender que isso é absolutamente normal e não há nada de errado. Saiba disso e compartilhe com as amigas e com o marido. Eu mesma fiquei um pouco assustada até receber a informação de que esse estado instável era bastante normal. Super texto da Psicóloga Carla Ribeiro na coluna de Psicologia.
Muito além da nova silhueta e forma física adquirida semanalmente, as mudanças que ocorrem na vida da mulher são inúmeras após a concepção e sua consciência. Os pensamentos, os medos e os sonhos não param… os aspectos psicológicos interferem sim, você ri à toa, se acha a dona da razão, chora por nada e a emoção fica à flor da pele, toda esta sensibilidade modula uma transformação ímpar, que vai torná-la mãe, e este processo é só o começo de tantas outras modificações que virão ao longo do amadurecimento que a maternidade proporciona. Seja pela ebulição hormonal e seja pelo modo como a mulher encara e passa a encarar a sua vida (mudanças pessoais), como encara também a nova condição de gestante (mudanças somáticas, físicas e sociais) e a vida que habita dentro de si mesma (mudanças interpessoais), vivências intensas e próprias do desenvolvimento de tornar-se mãe.
Então, passa a reestruturar a vida, multiplica-se em afeto, angaria forças para enfrentar os enjoos, a indisposição, o sono… aperta o orçamento familiar para priorizar os gastos, replaneja a vida profissional, controla a ansiedade quase sempre de modo insatisfatório, reajustes na relação conjugal, gasta-se mais do que deveria porque todas aquelas roupinhas minúsculas se tornam absolutamente encantadoras e se fica horas olhando aquelas pequenas peças e imaginando a vida que está em seu ventre naquele body tão pequenino.
Se permite comer aquele churros do outro lado da cidade, a pedir pratos de sua preferência a futura vovó, à sogra, à cunhada… rs, elabora uma lista recheada de perguntas ao obstetra e se arrepia quando ouve o coraçãozinho disparar a cada consulta do pré-natal. As formas na tela do ultrassom que só você e o médico entendem e você passa a perceber que o amor que é nutrido e gerado às vezes gera insegurança, medo de errar, de não dar conta, de não ser uma boa mãe… quem nunca teve receio da grandiosidade e da complexidade da relação materna? No fundo, no fundo todo mundo tem, mas quase ninguém admite.
Toda esta exposição emocional torna a mulher suscetível a mudanças saudáveis e correspondentes ao momento da gestação: em aspectos psicológicos, de auto imagem, na relação conjugal, e expectativas ao tornar-se mãe, segundo estudos Unviersidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, são eles:
Aspectos psicológicos:
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Maior intensidade de sensações e sentimentos dada o contexto;
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Inadequação quando o sentimento, que não condiz com a situação vivida como por exemplo um choro repentino e sem motivo;
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Conformidade, adaptação a irritações sendo interpretadas como próprio da gestação.
Aspectos de auto imagem:
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Insegurança de como o corpo ficará depois, se irá conseguir recuperar a forma física;
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Sensação de estranheza por notar olhares curiosos de pessoas estranhos a sua nova e transitória aparência;
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Incomodo físico, seja pelo aumento do odor do suor, peso da barriga, respingos de urina ou dor ao espirrar dentre outros;
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Autoestima abalada, em razão do corpo não corresponder aos desejos o que gera impotência, como por exemplo caminhar normalmente dada a marcha mais lenta, perda conformidade, quando se aceita as mudanças do corpo em razão de período transitório.
Aspectos da relação conjugal:
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Mais união e relação consolidada, em razão da divisão das tarefas da casa pela compreensão das limitações físicas e outras preocupações da parceira;
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Sensação de estar tolhida, já que alguns maridos não deixam a mulher realizar quase nada e gera incomodo a elas;
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Sentimento de ciúmes e insegurança, percepção de abandono e ser deixada para trás
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Menos sexo pela redução da libido na mulher e o medo do homem machucar o bebe;
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Redução de gastos no orçamento familiar, para oferecer ao bebê maior confoto.
Expectativas ao tornar-se mãe:
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Sensação de magia e vitória, pela autorrealização de conceber a vida;
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Sentimento de perda, em relação ao compromisso que deverão ter com o bebê diante da restrição de inúmeras outras opções quando sem o bebê;
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Sentimento de dependência, tanto do bebê à mãe em virtude da fragilidade e pela amamentação, como também da mãe em relação ao bebê pelo receio em ser possessiva e ciumenta.
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Segurança e crescimento pessoal, quando a mulher percebe que vai “dar conta do recado” e que toda essa grandiosa experiência poderá fazer de si uma pessoa melhor.
Assim, a gravidez proporciona mudanças comportamentais esperadas à fase, modificações saudáveis e conscientes, afinal um serzinho estará crescendo dentro de você.
Entretanto há também mudanças além do esperado, como por exemplo, desencadear uma crise emocional para a gestante em razão da adaptação e a necessidade de resolução de conflitos até então desconhecidos pela própria gestante (PICCININI, 2008). Mudanças e re-vivências psíquicas, lembranças da própria infância e da referência materna, o que significa ter que selecionar situações e lembranças como modelo e/ou como antimodelo para reproduzir na própria experiência enquanto mãe, quais atos abolir e manter no esquecimento se a memória teima em reviver também os maus momentos… conflitos como este podem tornar a gestante mais suscetível a vários distúrbios emocionais.
Compartilhar e trocar experiências com amigas, familiares e o companheiro/maridão ajuda muito. Mas se não for o suficiente procure por suporte profissional, uma avaliação psicológica poderá dimensionar melhor o que está relacionado a fase e se há algo para ser trabalhado/cuidado em psicoterapia.
PICCININI, Cesar Augusto et al. Gestação e a constituição da maternidade. Psicologia em estudo, v. 13, n. 1, p. 63-72, 2008.