O exercício da paternidade

Paternidade. Na Coluna de hoje, a Psicóloga Carla Ribeiro faz uma análise história do exercício da paternidade, que nos leva à uma profunda reflexão da relação entre pai e filho.

Para falar sobre paternidade e contextualizá-la no sistema familiar é imprescindível, assim como tudo na Psicologia, olhar o passado é fundamental para buscar a compreensão do agora. Convido a você a um breve resgate de fatos marcantes para melhor compreensão das modificações sócio -históricas do exercício da paternidade em nossa sociedade.

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Imagino que muitos de nós deva ter ao menos uma foto neste estilo em um álbum de família. Observem o posicionamento do homem na foto, no centro ao lado de sua companheira e dos frutos deste relacionamento ao redor. E não é à toa, a figura do homem no passado sempre ocupava uma posição de destaque, no modelo familiar patriarcal em que o patriarcal é o chefe da família, responsável por cuidar dos negócios e defender a honra da família, os filhos e a mulher eram frequentemente amedrontados com exceção do filho varão mais velho que recebia inúmeras regalias perante aos demais. Composta pelo patriarca, mulher, filhos, genros, noras e netos. Este modelo é rompido pela influência árabe aos portugueses na Europa, e chega ao Brasil em torno de 1808 com a corte portuguesa em que o homem tira a mulher de casa para construir sua família em outro domicílio, este é o modelo familiar nuclear que traz a divisão das tarefas do homem e mulher dentro da família.

Com a chegada das indústrias as mulheres passaram a desenvolver funções remuneradas combinadas ao trabalho doméstico, já a paternidade estava centrada em prover à família recursos para gerenciar com autoridade no lar e formar os filhos para se tornarem cidadãos honestos e honrados para servir a sociedade.

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O marco da família nuclear para a família moderna vem com o controle da natalidade, o anticoncepcional que atribui à mulher um forte poder de decisão junto a consolidação de sua participação no mercado de trabalho.

A igualdade passou a ser assim, um pressuposto em muitas relações, haja vista o crescente número de separações dando a consagração de uma família pluralista com filhos de produção independentes, homossexuais adotando filhos apresentando uma série de novas configurações. O resultado desta imposição feminista não podia ser diferente, o homem tinha que participar mais da educação dos filhos, conversando e estreitando os laços nestas relações.

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O ideal de pai foi se modificando e hoje, compreende diversos aspectos na diferenciação entre mãe e filho, limite, autoridade, transmissão de afeto e segurança, referência de masculinidade, ser um modelo de relacionamento de casal para os filhos.

A família é um grande sistema, atuar dentro dela como pai sendo presente e estando presente é, e sempre será mediante a própria subjetividade, de acordo com as experiências prévias, ou seja, lembranças de nossos próprios pais enquanto éramos apenas filhos.

Quantas vezes um pai se comporta tal como o próprio pai? Se o saldo desta experiência foi positivo ou negativo é algo muito particular, hoje enquanto pai há a clareza de que eles fizeram o melhor que puderam para deixar de herança um bom exemplo, ou se o resultado desta experiência tem um saldo negativo, de certo, há um anti modelo a ser seguido, e aí mora um grande desafio, fazer o diferente. Romper com padrões de comportamentos, buscar se distanciar das próprias referências para criar e recriar algo novo, em que o coração e a consciência darão vazão a atitudes e comportamentos guiados pelo bom senso e a ousadia de tentar fazer simplesmente o seu melhor também.

É comum que no sistema familiar alguém manipule, induza a culpa e surjam outras situações de desequilíbrio, é necessário que haja flexibilidade para readaptações, clareza nas razões quando criadas as exceções pois elas geram desequilíbrios maiores.

O vídeo a seguir retrata uma família nuclear, em que o diálogo e as diferentes gerações se chocam, observe o pai rígido que exige do filho outra postura. O pai não cria espaço para o diálogo com o filho, parecem que vivem em mundos totalmente diferentes e este distanciamento cresce ao ponto do filho sair de casa. O pai não participa, não demonstra interesse em conhecer tudo aquilo que cerca seu próprio filho e só consegue enxergar que boa parte do tempo de seu filho é ocioso. Apenas com o acidente, a dificuldade os aproxima novamente.

É muito fácil observamos os defeitos das pessoas que convivem conosco diariamente e por afinidade nos distanciarmos destas, no entanto o diálogo traz a possibilidade de escuta e reflexão pois a expectativa quanto a postura do outro certamente se confrontará com a realidade.

Carla Ribeiro

8 Comments on O exercício da paternidade

  1. Gisele Cirolini
    10/26/2014 at 16:43 (9 years ago)

    Ótimo texto.
    Aqui em casa meu marido é super participativo, sempre me ajuda a cuidar da Isabela quando ele está em casa, dá banho, troca fralda, brinca muito, conversa, explica e concordamos com a forma de educação que passamos para a Isabela. Não tenho nada a reclamar.

    Bjs
    Sou Mãe

  2. Leteia Bispo
    10/26/2014 at 19:10 (9 years ago)

    Ótimo para reflexão
    Hoje as coisas estão muito mudadas
    Bjus
    Segredosdaluma.blogspot.com.br

  3. Jamilly Lima
    10/26/2014 at 19:47 (9 years ago)

    Não tenho o que reclamar dos exemplos de paternidade que convivo, meu pai e marido, ambos são ótimos pais sempre presentes.
    beijos

    http://www.maeparasempre.com

  4. ludmyla
    10/27/2014 at 15:45 (9 years ago)

    Ótimo post!! Hoje as coisas mudaram muito!! Mais sempre que dá o papai do Bê tá presente!!

    Beijos,ótima semana!!

  5. Andreia Sales
    10/27/2014 at 17:56 (9 years ago)

    Eu não sei o que seria de mim se não fosse a ajuda do meu marido. Nós dividimos todas as tarefas.
    Eu confesso que demorei muito a ter um filho pois queria não só um ótimo marido, mas um pai melhor ainda.
    Graças a Deus encontrei o meu grande amor.
    Bjks da Mãe Vaidosa

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