Medo da mãe

Medo.Uma amiga da escola, com a qual eu não falava há anos me enviou esse link por mensagem, dizendo também que ainda não era mãe, mas que acompanhava o blog. O link ficou guardado e hoje, tardiamente resolvi abrir. (Obrigada Suzie).

Li, e depois de republicá-lo com os devidos créditos, pois o texto não é meu, vou fechar o Ipad e fazer um rolo de presunto e queijo. Como o Théo já está dormindo, o único ganhador de toda minha atenção será o maridão. Depois de ler esse texto, fica na nossa alma, uma sensação de posso fazer muito mais pela minha família. Mais atenção, mais dedicação e com as mãos livres. Leiam ….

medo
“A questão relevante sobre o grito” Rachel Macy Stafford (Handsfree)
Eu amo os bilhetes que recebo de meus filhos – sejam eles apenas rabiscos em uma folha amarela ou escritos em caligrafia perfeita e papel alinhado. Mas o poema do Dia das Mães que recentemente recebi da minha filha de 9 anos de idade foi especialmente significativo. Na verdade, a primeira linha do poema prendeu minha respiração e lágrimas quentes deslizaram pelo meu rosto.
“A coisa mais importante que eu posso dizer sobre a minha mãe é… que ela está sempre pronta a me apoiar, mesmo quando eu estou em apuros.”
Mas nem sempre foi assim.
Em meio às distrações da minha vida, comecei uma nova prática muito diferente da forma como eu havia me comportado até aquele ponto. Eu me tornei uma mãe que gritava. Não era sempre, mas era intenso – como um balão extremamente inflado que fazia com que todos ao alcance da minha voz se sobressaltassem com medo.
Então, como minhas meninas, na época com 3 e 6 anos de idade, me fizeram começar com isso? Foi no modo como uma insistia em correr para buscar mais três colares de contas e os seus óculos de sol rosa favoritos quando já estávamos atrasados? Foi na maneira como a outra tentou servir-se sozinha de cereal e derramou a caixa inteira no balcão da cozinha? Foi quando uma delas caiu e quebrou o meu anjo de vidro especial no piso de madeira depois de ter sido avisada para não tocá-lo? Foi por que elas lutavam contra o sono quando eu precisava de um pouco mais de paz e tranquilidade? Ou foi quando brigavam por coisas ridículas como quem seria o primeiro a sair do carro ou quem tem o maior sorvete?
Sim, eram esses percalços normais, questões e atitudes típicas de crianças que me irritavam a ponto de perder o controle.
Isso não é algo fácil de escrever. E também não foi um momento fácil na minha vida para reviver, porque verdade seja dita, eu me odiava nesses momentos. O que acontecia comigo para que precisasse gritar com as duas pequenas e preciosas pessoas que eu amo mais do que a vida?
Deixe-me dizer-lhe o que tinha acontecido comigo.

Distrações

O uso excessivo do telefone, a sobrecarga de compromissos, várias páginas de listas de tarefas, e a busca da perfeição me consumiam. E gritar com as pessoas que eu amava era um resultado direto da perda de controle que eu estava sentindo na minha vida.
Inevitavelmente, acabaria por desmoronar em algum lugar. Então eu desmoronei a portas fechadas na companhia das pessoas que mais significam para mim.
Até um dia fatídico.
Minha filha mais velha subiu em um banquinho e foi atingida por algo que caiu na despensa e ela acidentalmente entornou um saco inteiro de arroz no chão. Com um milhão de minúsculos grãos no chão parecidos com a chuva, os olhos de minha filha se encheram de lágrimas. E foi aí que eu vi – o medo em seus olhos quando ela se preparou para o discurso de sua mãe.
Ela está com medo de mim, eu pensei, com a conscientização mais dolorosa que se possa imaginar. Minha filha de seis anos de idade está com medo da minha reação ao seu erro inocente.
Com profunda tristeza, percebi que eu não era o tipo de mãe que eu queria para meus filhos conviverem e nem era assim que eu queria viver o resto da minha vida.
Dentro de algumas semanas depois desse episódio, eu tive meu momento de colapso e ruptura – foi a conscientização dolorosa que me impulsionou à jornada do Hands Free. Chegara a hora de deixar ir a distração e entender o que realmente importava. Isso foi há dois anos e meio atrás – dois anos e meio de lenta batalha para diminuir a distração e excesso de eletrônicos na minha vida… Dois anos e meio para me livrar do padrão inatingível de perfeição e da pressão da sociedade para “fazer tudo”. Ao deixar de lado minhas distrações internas e externas, a raiva e o estresse reprimidos dentro de mim lentamente se dissiparam. Com nova clareza eu era capaz de reagir aos erros e às injustiças de minhas filhas de uma forma mais calma, compassiva e razoável.
Comecei a dizer coisas como: “É apenas xarope de chocolate. É só limpar e a bancada ficará tão boa como se fosse nova.”
(Mudei do suspiro exasperado e revirar de olhos para uma boa atitude).
Eu me ofereci para ajudar com a vassoura enquanto ela varria um mar de flocos de cereais que cobriam o chão.
(Em vez de pular em cima dela com um olhar de desaprovação e aborrecimento total).
Eu a ajudei a pensar por onde ela poderia ter deixado seus óculos.
(Em vez de envergonhá-la por ser tão irresponsável).
E nos momentos em que a total exaustão e o choramingar incessante estavam prestes a me derrubar, eu entrava no banheiro, fechava a porta, e dava a mim mesma um momento para esfriar a cabeça e me lembrar que elas são crianças e as crianças cometem erros. Assim como eu.
E ao longo do tempo, o medo que uma vez brilhou nos olhos de minhas filhas quando estavam com problemas desapareceu. E graças a Deus, eu me tornei um refúgio em seus momentos de dificuldade, em vez de o inimigo do qual queriam correr e se esconder.
Não estou certa de que eu teria pensado em escrever sobre esta profunda transformação, não fosse pelo incidente que aconteceu na tarde da última segunda-feira. Naquele momento, senti o gosto da vida sendo esmagada e a vontade de gritar estava na ponta da minha língua. Eu estava chegando aos capítulos finais do livro que estou escrevendo atualmente e meu computador travou. De repente, as edições de três capítulos inteiros desapareceram na frente dos meus olhos. Passei vários minutos tentando freneticamente reverter para a versão mais recente do manuscrito. Quando isso não funcionou, eu consultei o backup da máquina, apenas para descobrir que ele, também, havia dado erro. Quando eu percebi que nunca iria recuperar o trabalho que fiz nesses três capítulos, eu queria chorar, mas mais ainda, queria sentir e extravasar a raiva.
Mas eu não podia porque era hora de pegar as crianças na escola e levá-las para o treino de natação em equipe. Com grande contenção, eu calmamente fechei meu laptop e me lembrei que poderia haver problemas muito piores do que reescrever esses capítulos. Então eu disse a mim mesma que não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer sobre esse problema naquele momento.
Quando minhas filhas entraram no carro, elas imediatamente perceberam que algo estava errado. “O que há de errado, mamãe?”. Elas perguntaram em uníssono depois de vislumbrarem meu rosto pálido.
Eu queria gritar: “Eu perdi três valiosos dias de trabalho no meu livro!”
Eu tinha vontade de bater no volante com os punhos, porque sentada no carro era o último lugar que eu queria estar naquele momento. Eu queria ir para casa e corrigir os meus livros – e não transportar crianças para a natação, torcer roupas de banho molhadas, pentear cabelos emaranhados, fazer o jantar, lavar a louça e pôr crianças na cama.
Mas ao invés disso, eu calmamente disse: “Eu estou tendo um pouco de dificuldade para falar agora. Eu perdi parte do meu livro. E eu não quero falar, porque eu me sinto muito frustrada.”
“Sentimos muito”, disse a mais velha por ambas. E então, como se soubessem que eu precisava de espaço, elas ficaram quietas todo o caminho até a piscina. As crianças e eu cumprimos o nosso dia e, embora eu estivesse mais calma do que o habitual, não precisei gritar e tentei o meu melhor para abster-me de pensar sobre o assunto do livro.
Finalmente, o dia estava quase terminando. Eu tinha colocado minha filha mais nova na cama e estava deitada ao lado de minha filha mais velha para nosso momento noturno de bater papo.
“Você acha que vai conseguir seus capítulos de volta?”. A minha filha perguntou em voz baixa.
E foi aí que eu comecei a chorar – não tanto pelos três capítulos, eu sabia que eles poderiam ser reescritos – o meu choro era mais um extravasamento, devido ao cansaço e frustração envolvidos em escrever e editar um livro. Eu estava tão perto do fim. E de repente ter arrancado de mim meu trabalho, foi algo extremamente decepcionante.
Para minha surpresa, minha filha estendeu a mão e acariciou meu cabelo suavemente. Ela disse palavras reconfortantes como: “Os computadores podem ser muito frustrantes”, e “Eu poderia dar uma olhada na máquina para ver se consigo consertar o backup.” E então, finalmente, “Mãe, você pode refazer o que perdeu. Você é a melhor escritora que eu conheço”, e “Eu vou ajudar no que puder.”
No meu momento difícil, problemático, lá estava ela, uma paciente e compassiva incentivadora que não pensaria em me chutar quando eu já estava para baixo.
Minha filha não teria aprendido essa resposta empática se eu tivesse permanecido no hábito de gritar. Porque quando se grita, desliga-se o canal de comunicação, que por sua vez rompe o vínculo e afasta as pessoas – em vez de aproximar.
“A coisa mais importante… É que a minha mãe está sempre pronta a me apoiar, mesmo quando eu estou em apuros”.
Minha filha escreveu isso sobre mim, a mulher que passou por um período difícil, do qual não se orgulha, mas que a ajudou a aprender. E nas palavras da minha filha, eu vejo esperança para os outros.
A coisa mais importante… É que não é tarde demais para parar de gritar.
A coisa mais importante… É o perdão das crianças, especialmente se elas veem a pessoa que amam tentando mudar.
A coisa mais importante… É que a vida é muito curta para se chatear com cereal derramado e sapatos fora do lugar.
A coisa mais importante… É que não importa o que aconteceu ontem, hoje é um novo dia.
Hoje podemos escolher uma resposta pacífica.
E ao fazê-lo, podemos ensinar aos nossos filhos que a paz constrói pontes – pontes pelas quais podemos atravessar com segurança por sobre tempos difíceis.
Este post foi originalmente criado por Rachel Macy Stafford, e publicado em seu site handsfree.com .Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger com permissão do autor.

20 Comments on Medo da mãe

  1. Marcelo Loureiro
    05/24/2014 at 13:03 (10 years ago)

    Que espetáculo!!! Vou deixar o link desse texto no meu favoritos para ler SEMPRE.

  2. Fernanda Freitas
    05/24/2014 at 12:26 (10 years ago)

    Lindo demais me emocionei!

  3. Sandra Tieppo
    05/26/2014 at 16:49 (10 years ago)

    Adorei o seu texto, mas não tenho o que comentar quanto a ser mãe, pois ainda não sou, então nada posso dizer quanto a gritar com filhos…
    Mas queria dizer, quanto a perca do seu texto, que existe um programa chamado Dropbox, que se você estiver conectada a internet ele faz o backup, paralelamente a sua digitação. É super simples de usar e você não terá mais este tipo de problema…

  4. Sandra Tieppo
    05/26/2014 at 19:09 (10 years ago)

    Adorei o seu texto, mas não tenho o que comentar quanto a ser mãe, pois ainda não sou, então nada posso dizer quanto a gritar com filhos…
    Mas queria dizer, quanto a perca do seu texto, que existe um programa chamado Dropbox, que se você estiver conectada a internet ele faz o backup, paralelamente a sua digitação. É super simples de usar e você não terá mais este tipo de problema…

    • Mari Visconti
      07/16/2014 at 11:50 (10 years ago)

      Sério? Eu tenho dropbox mas só uso para compartilhar fotos. Vou explorar um pouco mais. Obrigada e um bjo. Tomara que você entre logo para o time rs…

      • Anonymous
        03/18/2015 at 09:51 (9 years ago)

        Obrigada Mari.
        E aí já testou o Dropbox?
        Bjus

  5. Kalina Emmanuelle Dos Santos
    03/18/2015 at 10:05 (9 years ago)

    Adorei o texto. Me identifiquei muito, pois aconteceu o mesmo comigo. Um pouco pior, acho, porque cheguei a bater na minha filha, além de gritar e pôr de castigo na cadeirinha. Eu vi a cara de pavor dela, me olhando. Chorei e depois, quando fui tirá-la do castigo, eu pedi desculpas; expliquei que estava cansada, com dor de cabeça, mas que me excedi. Pra minha surpresa, ela me desculpou, me deitou no colo dela, me fez um carinho e disse que tudo ia melhorar; e se ofereceu pra me ajudar. Depois disso mudei por completo: nada de gritos e tapas no bumbum. E quando eu ficava muito nervosa, eu punha na cadeirinha pra pensar e ia pro banheiro respirar e me acalmar. E até hoje me orgulho da mãe que sou e nunca vou esquecer o que minha filha me ensinou.

  6. Rebeca BL
    03/28/2015 at 11:03 (9 years ago)

    Esoetaculatar. Aqui estou com três, sendo eles um bebê de 10 meses. Tendo que cuidar da casa, da alimentação, amamentar. Atender os clientes, editar no micro e tudo ao som dos gritos, brigas, choros e risadas dos meus filhos, de tarefas escolares e extracurriculares. Não é fácil… Já vivi momentos exatamente assim. Mas aí está o segredo: o equilíbrio… Somos mães muito presentes, mas precisamos desses momentos ausentes para encontramos nosso equilíbrio e ponderar nossas atitudes. Belo texto, super real.

  7. Alexandra Dacol Fengler
    03/29/2015 at 10:21 (9 years ago)

    Me emocionei, me identifiquei, o que me deixou mais triste. Mas vou mudar!!!! Este texto é perfeito. AMEI. OBRIGADA.

  8. Rose Teixeira
    04/02/2015 at 11:11 (9 years ago)

    Espetacular,muito bom, para a gente refletir sobre nossas reações e o efeito das mesmas nas pessoas que amamos(ou não)

  9. Ana Cristina Nascimento
    07/23/2015 at 17:59 (9 years ago)

    Foi muito importante ler este texto, me encontro em uma fase de mudança na educação dos meus filhos e não é fácil dribarmos tudo ao mesmo tempo. Muito obrigada!!!

  10. Tais Mariana
    08/17/2015 at 00:41 (9 years ago)

    Eu me identifiquei muito cm esse texto pq eu tbm era assim tudo a base do grito, mas teve um dia q eu percebi q o meu filho estava pegando medo de mim e coloquei na minha cabeça q a partir daquele dia eu ia para de ser assim cm o meu filho,e já percebi a diferença das atitudes dele comigo pq uns dias antes do dia dos pais eu estava um pouco triste por causa dele,e ele percebendo isso ele veiu até mim e me fslou assim(mamae pq vc esta triste)e ei respondi pra ele cm os olhos cheio de lagrima(filho a mamae não ta triste) em seguida ele mi disse novamente(pq vc ta triste mamae,não fica assim não mamae pq eu te amo muito.)a partir desse dia q eu percebi a maneira certa para criar um filho.

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